sexta-feira, 3 de maio de 2013

Elio de Angelis - Quase 30 anos de saudades

Se tivesse sobrevivido ao acidente que o matou, o italiano Elio de Angelis poderia ter tido uma longa carreira na Fórmula-1, mostrando muito mais do que seu talento pôde permitir nos sete anos em que correu na categoria. Quis o destino que não fosse assim.


Elio de Angelis

Embora visto como um piloto regular, mas pouco afeito a riscos e mediano em termos de resultados, De Angelis era muito popular em sua época, fazendo sucesso não só nas pistas, mas também fora delas, entre as mulheres, sendo reconhecido também por sua extrema simpatia e pelo talento ao piano.

Nascido em Roma, no dia 26 de março de 1958, De Angelis vinha de uma abastada família italiana e era o mais velho de quatro irmãos. Seu pai, Giulio, era um bem-sucedido construtor e, sendo também piloto de motonáutica, exercera forte influência sobre o filho, despertando assim seu gosto pelos esportes.

Embora tivesse verdadeira paixão pelo tênis e pelo esqui, não demorou para que Elio percebesse que seu destino estava no automobilismo. A estreia nas pistas ocorreu aos 14 anos, competindo no kart, categoria na qual terminou em segundo lugar no campeonato mundial, em 1975, sagrando-se campeão europeu no ano seguinte. Em 1977, passou a correr de monopostos, disputando o campeonato italiano de Fórmula 3, onde venceu no ano de estreia na categoria, e também na Fórmula 2.

A Fórmula 1 veio rápido, em 1978, com um teste para a equipe Shadow, com a qual assinou o contrato para disputar a temporada seguinte. Suas origens, no entanto, mostravam Elio como mais um piloto rico, que só garantira um lugar na Fórmula 1 graças à generosa ajuda financeira de seu pai. Pura bobagem. Seu desempenho na pista revelou um piloto extremamente talentoso, capaz de dominar facilmente a complexidade dos carros-asa, presença marcante na categoria naquela época.


Elio de Angelis: Início na F-1 pela equipe Shadow.



                                                       Video com tributo a Elio de Angelis


Mesmo com sete abandonos na temporada de estreia, somados a uma não-classificação em Mônaco, De Angelis acabou chamando a atenção deColin Chapman, com quem assinou contrato para correr pela Lotus em 1980, ao lado de Mario Andretti.

No time inglês, os bons frutos começaram a aparecer com o segundo lugar em Interlagos, segunda etapa do campeonato. Este resultado o levou a ser incluído no livro dos recordes como o mais jovem piloto a subir em um pódio na Fórmula-1. Tal marca só seria superada 17 anos depois pelo alemão Ralf Schumacher, no GP da Argentina.

A primeira vitória só viria em 1982, no GP da Áustria, onde venceu com apenas cinco décimos de vantagem sobre o finlandês Keke Rosberg, daWilliams. Foi também a última vez em que Chapman jogou seu boné preto para o alto, na reta de chegada, comemorando mais uma vitória de sua equipe. O lendário construtor morreria no final daquele ano, em circunstâncias até hoje não esclarecidas.


Elio de Angelis vence GP da Austria em 1982.
 A temporada de 1984 foi a melhor de sua carreira, quando terminou em terceiro na classificação geral, com 34 pontos. Na temporada seguinte, repetiu a dose de bons resultados, chegando a liderar o campeonato durante duas etapas: em San Marino, onde conquistou sua segunda vitória, e em Mônaco. Mas isto não foi o suficiente para pôr um fim à guerra de bastidores na Lotus, da qual Ayrton Senna - seu companheiro de equipe na época - saíra vencedor.

Na posição de segundo piloto, De Angelis encerrara o ano magoado e ressentido com a Lotus, principalmente com Senna e seu chefe de equipe, Peter Warr. Inconformado e sentindo-se traído, assinou com a Brabham para substituir Nélson Piquet na temporada de 1986, ao lado do compatriota Riccardo Patrese.

Na Brabham, tudo deu errado. O BT55, projetado por Gordon Murray, é considerado até hoje um dos projetos mais fracassados da categoria. Com um chassi extremamente baixo, ele tornava a pilotagem praticamente impossível nas curvas. Mesmo assim, De Angelis fazia questão de testá-lo até o limite para diminuir a diferença em relação aos concorrentes.


Elio de Angelis correndo pela Brabham em 1986.

Três dias depois de disputar o GP de Mônaco - onde abandonara na 31ª volta, com problemas no motor -, a equipe decidiu testar o carro mais uma vez, no circuito de Paul Ricard, na França, com De Angelis ao volante. Na entrada da curva La Verrerie, o piloto italiano foi surpreendido pela quebra da asa traseira de seu carro. O impacto em alta velocidade fez com que o BT55 se arrastasse sobre um barranco por 80 metros, de cabeça para baixo, até bater em uma árvore e começar a pegar fogo.

Já sem pulso, De Angelis precisou ser reanimado pela equipe médica ainda no local do acidente, antes de ser transferido de helicóptero para o Hospital La Timone, em Marselha, no Sul da França.

O australiano Alan Jones, na época correndo pela Lola, foi o primeiro a chegar ao local do acidente, seguido por Rosberg, Alain Prost e Patrick Tambay. Anos depois, ao lembrar do episódio, Jones deu uma declaração que escancarava a total precariedade no socorro a De Angelis naquele dia.


                                                         Vídeo da morte de Elio de Angelis.

"Quando cheguei ao local da batida, o incêndio no carro ainda não havia começado. Havia apenas uma ligeira fumaça preta saindo do motor. O problema é que não conseguíamos virar o carro, que era muito pesado. Lembro de ter visto vários fiscais no local, mas com roupas inadequadas. Muitos estavam usando shorts. Para piorar, lançaram todo o pó químico do extintor na direção do cockpit, e não sobre o motor, tornando a situação de De Angelis ainda pior. Foi simplesmente horrível."

Elio de Angelis morreria 29 horas depois do acidente, em conseqüência das lesões cerebrais causadas pela violenta desaceleração durante o impacto e dos ferimentos no tórax. Sua morte acabou levando a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) a adotar uma série de medidas de segurança durante os testes, e que são usadas até hoje.

De Angelis tornou-se o último piloto a morrer na Fórmula 1 antes da tragédia que tiraria as vidas de Roland Ratzenberger e Ayrton Senna, em Ímola, oito anos depois. Curiosamente, foi justamente Senna quem lhe rendeu o mais significativo comentário durante os funerais do piloto italiano:

"Ele era um piloto muito especial, pois tudo o que fez foi por amor ao esporte. Era um cara bem-educado, um cavalheiro, excelente pessoa. Tenho certeza de que não teve culpa no acidente em Paul Ricard, pois nunca ultrapassava seu limite, jamais brincava com a sorte."


Nenhum comentário:

Postar um comentário