quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Andrea de Cesaris - O recordista de GP's sem vitória

Entre os pilotos que já passaram pela Fórmula-1, muitos acabam permanecendo para sempre em nossas memórias. Normalmente, isso ocorre em função das vitórias e títulos obtidos nas pistas, resultantes de uma carreira recheada de glórias e conquistas.
Mas há casos em que, mesmo com uma trajetória de resultados pouco expressivos, certos pilotos possuem características tão marcantes que, por esse motivo, acabam sempre lembrados de alguma forma.
Este é o caso de Andrea de Cesaris, que, ao longo de seus 15 anos na Fórmula-1, obteve a incrível marca de 148 abandonos. E tudo isso em 208 Grandes Prêmios disputados entre 1980 e 1994, fazendo dele o piloto com o maior número de corridas sem vitória. Ambas as marcas permanecem até hoje em seu currículo, mas vale lembrar que muito da má sorte deste italiano nascido em Roma foi resultado também de problemas mecânicos ocorridos nos 20 carros que pilotou nas equipes por onde passou.
De Cesaris era um piloto rápido e constante, capaz de provar seu talento se tivesse um carro confiável em mãos, o que acabou demonstrando em alguns momentos da fase final de sua carreira. Nem por isso livrou-se da fama de destruidor, o que lhe valeu a infeliz alcunha de "Andrea de Crasheris", obtida em 1981, quando correu pela McLaren e destruiu 22 carros durante treinos e corridas.


                                                                  Andrea de Cesaris

CARREIRA
F3 e F2 e a grande chance na F-1
Filho de um comerciante abastado, que mais tarde se tornou no representante da Marlboro em Itália, o italiano começou a sua carreira nos karts, onde se tornou num rei das pistas.

Em 1979 foi vice-campeão de Fórmula 3, atrás do brasileiro Chico Serra, e em 1980 passou para a Fórmula 2, onde correu pela Project Four, a escuderia de Ron Dennis, futuro patrão da McLaren. No final da época, em 1980, De Cesaris teve uma chance para correr na Fórmula 1, a bordo de um Alfa Romeo substituíndo o experientíssimo compatriota Vittorio Brambilla nos Grandes Prêmios do Canadá e dos Estados Unidos, onde abandonou em ambas as corridas.


                                        De Cesaris com um March Toyota na F3 Inglesa.

Fórmula 1 
Mclaren (1981):
Em 1981, transferiu-se para a McLaren tornando-se conhecido na categoria por destruir 22 chassis na primeira temporada completa, chegando ao ponto de ter a alcunha de “De Crasheris” (era um trocadilho com a música Under Pressure, da banda britânica Queen). Contudo, no final da época, Ron Dennis pura e simplesmente despediu-o. No seu primeiro ano, o piloto marcou apenas 1 ponto com o 6º lugar em San Marino e o 18º na classificação geral.

                       Andrea de Cesaris durante os treinos do GP da Itália em 1981 com a Mclaren.


                                    De Cesaris se acidenta durante GP de Zandvort em 1981.     

Alfa Romeo (1982 - 1983):
Regressa na Alfa Romeo em 1982, e a rapidez deu-lhe frutos: pole-position em Long Beach (a única da sua carreira). Tem o seu primeiro podium com o 3º lugar em Mônaco absolutamente anormal, com troca de posições em menos de 3 voltas para o final. Marca 5 pontos e o 17º lugar no campeonato. Continua na equipe em 1983, e consegue a sua melhor temporada: dois 2º lugares nos GPs: da Alemanha e da África do Sul, e uma exibição de luxo em Spa-Francochamps. Largando na 3ª posição, ele ultrapassa os franceses Prost (pole) da Renault e Tambay (2ª posição) da Ferrari e contorna a primeira curva à frente deles. O piloto da Alfa Romeo número 22 vai abrindo da concorrência chegando a fazer a volta mais rápida (a única na carreira) e lidera por 18 voltas. Após os pits, retorna na prova em 2º até o motor estourar. No final da época, os 15 pontos dão-lhe o 8º lugar na classificação geral.

                        De Cesaris com o carro da Alfa Romeo em 1982 onde correu por duas temporadas.
    

Ligier (1984 - 1985):
Em 1984, passa para a Ligier, mas os resultados são modestos. O melhor que consegue é um 5º lugar em Kyalami, acabando a época no 18º lugar, com 3 pontos. Continua no time francês em 1985, mas agora com o piloto da casa Jacques Laffite como seu companheiro. O 4º lugar no GP de Mônaco prometia muito, até que sofreu um dos mais espetaculares acidentes da Fórmula 1 no GP da Áustria, quando capotou seu carro várias vezes.

                       Acidente de Andrea de Cesaris no GP da Austria em 1985; série de capotagens...

                                                  ... porém o mesmo saí sem nenhum arranhão.

 Entretanto, o piloto do carro azul número 25 não sofreu nenhum arranhão. Indignado, Guy Ligier demite-o da equipe.No desligamento com o time azul, fica apenas com os 3 pontos da corrida do principado e o 17º lugar no campeonato.

                                             De Cesaris pilotando a Ligier na temporada de 1984.

E aqui pilotando a Ligier na temporada de 1985.


Minardi (1986):
Sem grandes hipóteses, em 1986 virou-se para a Minardi, onde nada consegue num carro pesado, lento, pouco confiável e muitos abandonos. Resultado: nenhum ponto no final do campeonato.

                        Temporada de 1986 na Minardi: decepção para De Cesaris com carro ruim.



Brabham (1987):
No ano de 1987 vai para a Brabham e dependia de um patrocinador para disputar todas as provas, uma vez que aspirava a uma vaga numa das tradicionais equipes do circo, que naquela época já se encontrava em irreversível estado de decadência. Na véspera do encerramento das inscrições, o italiano chega ao Rio de Janeiro com o patrocínio na mão (naquela época, o Grande Prêmio do Brasil era disputado em Jacarepaguá), e vai logo para a pista. Depois de três rodadas, retira-se. O carro estava intacto. Contudo, foi com eles que o piloto do carro número 8 voltou ao podium com um 3º lugar na Bélgica. Esses 4 pontos deram-lhe o 14º lugar na geral.

                                                      Andrea de Cesaris com a Brabham em 1987.



Rial (1988):
Para o campeonato de 1988, ele é a alma de um novo projeto: a Rial, que era nada mais, nada menos que um ressuscitar da velha ATS, do alemão Gunther Schmidt e equipado com motor Ford Cosworth aspirado (no ano seguinte o turbo seria banido da Fórmula 1). Essa aventura deu-lhe alguns resultados de relevo, como um 4º lugar em Detroit. Mas nada mais com 3 pontos e o 15º lugar no final.

                                 De Cesaris com  a Rial em Jacarépagua na temporada de 1988.


                            De Cesaris com a expressão encabulada no cockpit da Rial em 1988.

Dallara (1989 - 1990):
No ano de 1989, vai para a Dallara. Na sua nova equipe, na terceira etapa, o GP de Mônaco, o italiano ocupando a 4ª posição vinha para ultrapassar o tricampeão brasileiro Nelson Piquet da Lotus, que era retardatário. Os dois pilotos vão fazer a curva Loews ao mesmo tempo. Resultado: ambos se tocam e ficam emperrados. Dentro de seus cockpits, os dois pilotos discutem como se estivesse num trânsito de rua.

                            De Cesaris e Nelson Piquet discutem após batida no GP de Mônaco de 1989.

 Duas etapas seguintes, em Phoenix, o momento cômico do ano, protagonizado por Andrea de Cesaris: ele estava a ser ultrapassado pelo seu companheiro e compatriota Alex Caffi (à caminho do primeiro podium durante a prova), quando… toca nele e o coloca fora de pista. De Cesaris acabou a corrida em 8º lugar, mas provavelmente deve ter voltado a pé para o hotel pelo ato cometido; na etapa seguinte, o chuvoso GP do Canadá, termina em 3º - (o primeiro podium no seu novo time e o último na sua carreira), e os 4 pontos que lhe dão um 17º lugar na geral. Continua mais um ano na equipe em 1990, mas com 12 abandonos, duas provas concluídas, uma não qualificação no grid de largada e uma desclassificação, o piloto do carro número 22 não saiu do zero.

                                      Em 1989, De Cesaris vai correr na equipe Dallara da Scuderia Itália.


              De Cesaris no pódio em 3º no GP do Canadá de 1989 ao lado de Thierry Boutsen e Ricardo Patresse. Seria o último de sua carreira na F-1.


Jordan (1991):
Muda-se para outra equipe estreante: a Jordan e grandes expectativas para o campeonato de 1991. A equipe de Eddie Jordan experiente em Fórmulas inferiores, tinha argumentos de peso: tinha um bom motor, o chassis era simples, mas eficiente, foi a surpresa do ano. O grande momento do intrépido piloto foi o GP da Bélgica. Ele não tinha feito a troca de pneus, e por 10 voltas seguidas ia bravamente na 2ª posição pressionando Ayrton Senna da McLaren, que enfrentava problemas na troca de marchas. O resultado naquele momento era fantástico tanto para o piloto e para o time estreante, mas faltando 3 voltas, o motor Ford do carro verde número 33 estourou deixando ele e a equipe irlandesa decepcionada. Nas etapas seguintes, o piloto de 32 anos não conseguiu repetir o mesmo feito. Com um grande carro no ano de estreia fez 9 pontos e o 9º lugar na classificação.                  
   
                      Em 1991, Andrea de Cesaris topa o desafio de correr pela estreante equipe Jordan.


Tyrrel (1992 - 1993):
Eddie Jordan queria o piloto romano para o campeonato de 1992, mas o novo patrocinador do time irlandês é Barclay, o rival da Marlboro, e não podia ficar. Sendo assim, foi para a Tyrrell, onde os seus préstimos foram úteis. Os 8 pontos alcançados no final da época permitiam-lhe repetir o 9º lugar do ano anterior. Mas para 1993, com os motores Ilmor a serem substituídos pelos Yamaha, as coisas ficaram piores, e De Cesaris acabou a época tal como começou: com zero.

                    Sem apoio do patrocinador no final de 1991, De Cesaris vai para a Tyrrel em 1992...

                                                  ... Permanecendo também com a equipe em 1993.


Jordan e Sauber (1994):
Em 1994, De Cesaris estava fora da Fórmula 1 quando a etapa começou no Brasil, mas um incidente nessa corrida que lhe iria providenciar ao piloto uma última época na competição. Primeiro na Jordan, onde substituiu o norte-irlandês Eddie Irvine (suspenso por três provas por ter provocado acidente envolvendo três pilotos em Interlagos), e onde o italiano arrancou um brilhante 4º lugar em Mônaco em sua última prova pelo time.
 No GP do Canadá, Peter Sauber convoca o destemido piloto romano para substituir o austríaco Karl Wendlinger, que se acidentou nos treinos em Mônaco. Na semana da prova, o romano comemorou o seu GP de número 200 no currículo. Na segunda corrida pelo time suíço, o piloto do carro número 29 marca 1 ponto com o 6º lugar na França; nas sete corridas seguidas ele nem terminou-as incluindo o GP da Europa, em Jerez, na Espanha, a sua última corrida na sua longa carreira. Ao ser comunicado que o piloto austríaco não tinha condições físicas de pilotar as duas últimas corridas do campeonato, Peter Sauber chama novamente o italiano para reassumir a posição vaga de Wendlinger, mas o romano de 35 anos agradeceu o convite e preferiu continuar curtindo o sol e as praias no Havaí. Apenas 4 pontos e o 20º lugar no fechamento de sua carreira.

                                                     De Cesaris com a Sauber no GP da Bélgica de 1994.

O legado de Andrea De Cesaris é enorme: em 208 GP’s, espalhados por 15 temporadas, conseguiu uma pole, uma volta mais rápida, cinco pódios e 59 pontos no total. É um dos cinco que atingiu a mística marca dos 200 GP’s.

Após a Fórmula 1:
Depois da carreira de piloto, sumiu de vista durante dez anos. Era corretor da bolsa em Monte Carlo e praticante de “windsurf” nos tempos livres. 

                     De Cesaris pratica Windsurf nas horas vagas. Aqui está com sua filha no Havaí em 2011.

Reapareceu por alturas do “tsunami” de 2004, quando doou verbas substanciais em populações no Sri Lanka. E depois… veio A GP Masters onde correu entre 2005 e 2006. A idade tinha passado por ele, mas a forma era a mesma. E continuou a dar cartas nessa competição. Em maio de 2014, De Cesaris esteve em Ímola, participando de um jogo de futebol entre ex-pilotos que fez parte das homenagens pelos 20 anos da morte de Ayrton Senna.


                                                   Em 2006, De Cesaris corre pela GP Masters.

             Andrea de Cesaris, em Ímola, em maio, nas homenagens pelos 20 anos da morte de Ayrton Senna.


Em 2014, sofre um acidente de moto nos arredores de Roma, Itália, chocando-se violentamente sobre

os guard-rails, não resistindo aos ferimentos, falecendo antes de chegar ao hospital. Morreu com 55 

anos levando consigo uma parte folclórica da F-1.


             Homenagem à Andrea de Cesaris no game GP4 mod 1983 (screenshot tirado por Douglas Valin)

Nenhum comentário:

Postar um comentário